Uma das coisas mais injustas que ocorre nas análises de
torcedores e comentaristas de qualquer modalidade de esporte coletivo é a classificação
de um jogador como amarelão, pipoqueiro ou qualquer desses termos em
decorrência dos resultados da equipe. Em qualquer esporte coletivo, há uma
série de fatores que interferem nas conquistas e o futebol americano, talvez
mais que qualquer outro, é um exemplo claro disso.
Peyton Manning, um dos maiores QBs da história da liga,
foi vítima disso em seus primeiros anos na NFL. Selecionado na primeira posição
geral do Draft de 1998 pelo Indianapolis Colts, mostrou desde sua primeira
temporada a habilidade que faziam os scouts o colocarem como um dos maiores
prospectos da posição em muito tempo. Apesar de muitos questionarem sua força
no braço na época, sua inteligência para ler defesas e mudar as jogadas com o
audible superavam qualquer implicância. A cada temporada regular, Manning
impressionava e liderava o Colts para os playoffs da NFL. Mas quando chegava a
fase decisiva, as derrotas vinham e Indianapolis não conseguia chegar ao tão
sonhado Super Bowl.
Em paralelo a isso, nascia um rival em New England.
Selecionado somente na sexta rodada do draft de 2000, na 199ª posição geral,
Tom Brady conquistava a posição de titular do Patriots e vencia nos playoffs,
chegando três vezes em cinco anos ao Super Bowl, conquistando o título em todos
eles. Tony Dungy revelou tempos depois que Brady estava na lista de possíveis
seleções do Colts naquele draft, mas como tinha o projeto Peyton Manning para
ser o jogador da franquia.
Veio então a temporada 2005/2006. Mais uma ótima campanha
na temporada regular, o Indianapolis Colts chegou aos playoffs. Peyton teve mais uma vez ótimos números, com
3.747 jardas, 28 TDs e 10 interceptações com um QB Rating de 104.1. E, embora
nos playoffs não tenha impressionado muito, chegou à final da AFC, justamente
contra o New England Patriots. Manning e o Colts tinham cinco derrotas
consecutivas para a equipe de New England naquele ponto. Uma nova derrota, na
decisão da AFC em casa poderia mudar os rumos da franquia e da carreira de
Manning.
E o começo do jogo não foi nada animador para o torcedor
do Colts. A defesa no primeiro tempo foi dominada pelo ataque terrestre de New
England (fato que também foi uma tradição vista nas últimas duas vezes que as
equipes se encontraram na pós-temporada). Além disso, os “deuses da NFL”
pareciam conspirar contra o Colts. Tom Brady conduziu sua equipe à linha de 5
jardas e entrou para seu RB, que não segurou a bola. Fumble e bola recuperada
na endzone pela linha ofensiva para TD. No drive seguinte, Manning conduziu boa
campanha, mas que terminou apenas no FG de Adam Vinatieri. Tom Brady voltou a
campo e conduziu mais uma campanha para TD terrestre, onde o RB poderia ter
ligado para pedir uma pizza enquanto caminhava até a endzone. Campanha que
também teve uma conversão de 4ª para 6 próximo a linha de 35 jardas do campo de
ataque. Manning começou um novo drive e foi interceptado em lançamento para
Marvin Harrison, retornado para TD, deixando o placar em 21 x 3 ainda no
segundo quarto de partida.
A situação estava complicada, mas a defesa começava a dar
sinais de recuperação. E, com 3 minutos para o intervalo, Peyton Manning
começou a fazer o que mais nos acostumamos a ver em sua carreira. Com o no
huddle, comandou uma campanha de 70 jardas que chegou a ter uma 1ª para o TD na
linha de 10 jardas. Chegou perto do TD, mas teve que se contentar com o FG e
reduzir a vantagem do Patriots para 21 x 6 antes do intervalo. O Colts não
marcava um TD desde o Wild Card Round, contra o Kansas City Chiefs. Foram 20
campanhas sem chegar a endzone.
Na volta para o segundo tempo, a primeira posse de bola
foi de Indianapolis e Peyton Manning comandou uma campanha longa cerca de 7
minutos, chegando à linha de uma jarda. Com o ataque posicionado para uma
corrida de grau lei, Manning executa um play action perfeito e encontra o
número Dan Klecko, um jogador de linha defensiva, livre na endzone, reduzindo a
diferença para uma posse de bola. Mais uma vez a defesa parou Tom Brady e
companhia, forçando um 3 and out e dando a chance do ataque empatar o jogo.
Mais um ótimo drive conduzido por Peyton Manning que terminou em TD terrestre
de do próprio Manning, de uma jarda, com o QB se apoiando por cima do center
Jeff Saturday, deixando o placar em 21 x 19. Colts foram para a conversão de 2
pontos e Manning encontra Marvin Harrison na endzone para o empate. Foram 18
pontos consecutivos, maior recuperação de uma equipe em uma final de
conferência e o jogo estava apenas no terceiro quarto ainda.
Foi nesse ponto que começou o show de horrores do time de
especialistas do Colts. Permitindo um retorno de 80 jardas, facilitou a vida de
New England e Tom Brady logo anotou mais um TD para o Patriots, deixando o
placar em 28 x 21, antes do início do último período. Começando o quarto período, Manning conduziu
mais uma ótima campanha, chegando à linha de 5 jardas. Entregou a bola para
Rhodes correr e o jogador sofreu um fumble a 1 jarda da endzone. Fumble
recuperado pelo center Jeff Saturday para empatar novamente o jogo. Os ataques das duas equipes estavam bem nesse
ponto do jogo, e uma campanha que terminava em FG para cada lado colocava o
placar em 31 x 31 faltando 7 minutos para o fim do jogo.
Mais uma vez os especialistas do Colts não conseguiram
segurar os retornadores do Patriots, dando novamente boa posição de campo para
Tom Brady. Utilizando de corridas e gastando relógio, o Patriots sai de campo
novamente com um FG em vantagem de 34 x 31. De maneira rápida, o ataque do
Colts sai com um 3 and out, e a defesa precisa parar o ataque para dar uma
chance de empate ou vitória, faltando menos de 4 minutos. O Patriots mais uma
vez gasta cronometro, força dos pedidos de tempo, mas não consegue finalizar o
jogo. A bola é devolvida para o Colts, que teria 80 jardas para percorrer em 2
minutos e meio com somente um tempo para pedir, mais a parada do Two Minute
Warning.
Novamente, Peyton Manning entra em ação, com o no huddle
e conexões precisas para Reggie Wayne e Marvin Harrison. Em uma das conexões
para Wayne, o WR perde o controle da bola, que flutua para silêncio do RCA Dome. Gentilmente, ela cai novamente nas mãos de Wayne, para alívio da
torcida local. Com 1:53 para o fim do jogo, o Colts já batia a porta da
endzone, com uma 1ª para 10 jardas na linha de 13. De maneira conservadora,
Addai é acionado, para gastar relógio e, com empate ou TD, deixar pouco tempo
para uma reviravolta do Patriots. Quando o relógio marcava 1 minuto para o fim
do jogo, Manning entregou a bola para Addai, que entrou na endzone e colocou o
Colts pela primeira vez na liderança do jogo, com 38 x 34.
Mas ainda tinha 1 minuto no cronômetro e Tom Brady já era
conhecido por várias viradas. O time de especialistas do Colts finalmente deu o
ar de sua graça e não permitiu um retorno longo. Brady avança até a linha de 45
jardas do campo de ataque. Os traumas das recentes eliminações vêm à tona na
torcida e em Peyton Manning, que fica de cabeça baixa na sideline. No
documentário 30 for 30 sofre essa final, produzido pela ESPN americana, Manning
revelou que nesse momento rezava para Deus para que dessa vez pudesse sair
vitorioso. Depois de uma recuperação excepcional, ele precisava sair com a
vitória dessa vez. Uma nova derrota para o Patriots, em uma final de
conferência, certamente geraria muitos questionamentos em Indianapolis sobre o
poder de decisão de Manning. E quis o destino que essa fosse sua noite. Brady
lançou e Sanders interceptou para finalizar a partida. Histórico e Épico. Jogo
que não saiu da memória de todos os torcedores do Colts que viveram essa
decisão.
Duas semanas depois, o Colts foi a Miami e venceu o
Chicago Bears, conquistando o segundo título da franquia, o primeiro desde que
a franquia se estabeleceu em Indianápolis. Peyton Manning foi eleito o MVP do
Super Bowl XLI. Mas o jogo da redenção foi à final da AFC. Peyton não poderia
perder novamente para o Patriots, precisava dessa vitória em um momento tão
importante. Desde então, Manning chegou
mais duas vezes ao Super Bowl, uma com o Colts e outra com o Broncos, quebrou o
recordo de TDs em uma temporada (55), de TDs na carreira (539 e contado) de
jardas aeras na carreira (71.871 e contando) e em uma temporada (5.477). Venceu
e virou jogos impressionantes, como em um Monday Night Football em 2009 contra o mesmo Patriots, revertendo
uma diferença de 3 TDs no último quarto de jogo. Fatos como esses colocam a
prova que ele não pode ter o rótulo de pipoqueiro, de que vacila nas horas decisivas.
Em um esporte coletivo como o futebol americano, não dá para tachar um jogador
como responsável por todos os insucessos da equipe. Essa final provou isso e,
desse jogo em diante, Peyton trilhou o caminho que o colocou como um dos
maiores da história e futuro hall da fama da NFL.
A SÉRIE
A série RECONTO HTE é destinada a lembrar grandes
momentos, histórias e personagens do esporte brasileiro e mundial. Ao longo do
tempo, iremos trazer aqui grandes rivalidades, confrontos marcantes e tudo que
nos fez um dia nos apaixonarmos por esporte. Afinal, aqui no HTE Sports, #TorcerÉPouco.
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2 Comentários
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ResponderExcluirfromiztralvi
fracigbac_ku April Jones Microsoft Office
ResponderExcluirCubase
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