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CINE HTE - 42: A HISTÓRIA DE UMA LENDA

O debate sobre o racismo e discriminação continua no noticiário desportivo brasileiro após a punição imposta ao Grêmio por conta dos eventos ocorridos na partida contra o Santos válida pela Copa do Brasil. Na última semana nessa mesma coluna falamos sobre esse caso com sob a ótica do fanatismo com o filme Hooligans. Hoje, vamos falar um pouco mais sobre o racismo sob o ponto de vista histórico e de como o esporte têm sido utilizado como ferramenta para vencer a discriminação. O filme escolhido para debatermos esse assunto é 42: A história de uma lenda (42; 2013), que, baseado em fatos reais, conta a história do primeiro jogador negro, Jackie Robinson a jogar na principal liga de baseball dos EUA.

Para entender a importância histórica do fato é necessário lembrarmo-nos do contexto do dos EUA naquele período. O ano era 1946. O mundo vivia o encerramento da segunda guerra mundial onde os americanos junto as forças aliadas derrubaram após pouco mais de 6 anos de confronto bélico um dos regimes mais asquerosos produzidos pelo ser humano, o nazismo de Hittler. Porém, por mais que tenha sido derrubado o regime que se ditava pela superioridade da raça ariana (entenda-se, os brancos não judeus) os EUA ainda não tinham feito sua lição de casa. A segregação racial era ainda uma realidade presente no dia-a-dia dos norte americanos, continuando ainda por muito tempo. Vamos lembrar que o famoso discurso de Martin Luther King “Eu tenho um sonho” é datado no ano de 1963, quase 20 anos após a história de Jackie Robinson contada nesse filme.

Nesse contexto, podemos imaginar o quanto ainda era difícil a vida dos descendentes de africanos em todas as áreas da sociedade americana, incluindo o esporte. Retratando isso, o filme 42 apresenta Branch Rickey, dirigente do Brooklyn Dodgres interpretado por Harrison Ford, que naquele ano entendeu que era necessário contratar um jogador negro para sua equipe. Indo contra seus assessores, técnico de sua equipe e elenco, Rickey busca em uma equipe da liga de baseball para negros Jackie Robinson, ex-militar e conhecido por ter um temperamento forte. Durante as negociações com Robinson, Rickey aponta que ele seria perseguido, intimidado e hostilizado e pede que Robinson tenha a coragem de não se defender, de não retrucar. Explica: “Se você responder a um palavrão a única coisa da qual irão falar é que o negro perdeu a cabeça e o negro não serve para isso”. Rickey sabia que para isso dar certo precisava que Robinson mostrasse que conseguiria ser superior a isso. Que conseguiria vencer as intimidações que viriam de todos os lados, incluindo seus próprios companheiros de equipe, mostrando assim que não haveria o que temer da raça negra.

E Jackie Robinson, como previsto por Rickey, sofreu com tudo isso. Jogadores de sua própria equipe pediam para serem trocados. Hotéis rejeitavam a hospedagem dos Dodgers, torcidas e até técnicos adversários direcionavam seus xingamentos exclusivamente para Jackie. Talvez uma das cenas mais emblemáticas seja a do jogo em Cincinnati onde muitos da cidade queriam ver o jogador de sua Pee Wee, também dos Dodgers, jogando em sua cidade natal. Uma criança assiste ao jogo com seu pai no estádio e o vê xingando Robinson de todos os modos possíveis e, sem entender muita coisa, começa a xingar também. Até a hora em que Pee Wee o abraça. Nessa hora o garoto começa a entender que há algo de errado nessa hostilização e baixa a cabeça.

Nelson Mandela, talvez o mais importante símbolo da luta contra o racismo no século XX disse uma vez: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinados a amar”. Essa cena mostra bem esse pensamento de Mandela. O menino não sabia por que estava hostilizando Robinson, só o ofendia pelo fato de seu pai e outros torcedores também o fazerem. Vendo seu ídolo Pee Wee abraçando Robinson mostrou a ele que não precisava ser assim, que ele poderia respeitar também Robinson.

Na sequencia ainda vemos um outro companheiro de equipe perguntando a Jackie por que ele não tomava banho junto com os demais companheiros de equipe. Essa cena pode estar sendo vivida novamente nos EUA nos dias de hoje. Quem acompanha a NFL deve muito bem conhecer o caso de Michael Sam, DE selecionado na sexta rodada do draft desse ano e primeiro jogador assumidamente homossexual a estar em um time da liga. Cortado dos Rams após a pré-temporada, Sam foi para o Dallas Cowboys integrar o “Pratice Squad” e pode ser ainda esse ano ser o primeiro a entrar em campo em uma partida válida pela temporada regular. Os tempos são outros, mas a discriminação parece que continua. Portais e sites de notícias norte-americanos já noticiaram que enquanto Michael Sam fazia partes dos Rams também não podia tomar banho junto com seus companheiros de equipe. Talvez seja esse mais um tabu que o esporte ajudará a quebrar.

Robinson e Rickey foram somente um dos percussores da luta contra o racismo através do esporte. Não foi do dia para noite que esse tabu foi vencido no baseball, mas aos poucos os negros foram ganhando seu espeçado, reconhecimento e respeito merecido. Em 15 de abril de 1997 a MLB retirou o número "42", utilizado por Robinson de todos os jogadores que a usavam de todos os times. Foi a primeira vez que qualquer número de camisa tinha sido aposentado durante uma das quatro grandes ligas esportivas americanas de todos os esportes no mundo. Em 2007, a MLB autorizou que somente no dia 15 de abril permitiria que todos os jogadores usassem a camisa de número "42", virou uma celebração anual chamada de "Jackie Robinson Day" (Dia de Jackie Robinson). Todos os jogadores de todos os times da liga nesse dia usam esse número.

Ficha Técnica
Título Original: 42
Tempo de duração: 128 min
Ano de lançamento (EUA): 2013
Direção: Brian Helgeland
Roteiro: Brian Helgeland

OBS: A seção Cine HTE não tem a pretensão de fazer uma crítica em si dos filmes, mas relatar e refletir sobre os ensinamentos que são abordados na história, seja baseado em fatos reais ou mera ficção.

Por Marcelo Tadeu Parpinelli

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