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CINE HTE – EL CHANFLE


Há um ano o mundo se despediu de um dos maiores comediantes. As gravações de seus programas televisivos já se encerraram há mais de 20 anos e mesmo assim continuam a encantar crianças e adultos. Roberto Gómez Bolaños, ou Chespirito, no dia 28 de novembro de 2014 foi integrar o time do céu, deixando para nós seus personagens magníficos, como o Chaves e o Chapolin. No Cine HTE desse mês, iremos comentar sobre o único filme que contou com o elenco completo que tantas risadas nos trouxe, El Chanfle, gravado em 1979.

Você certamente já disse ou ouviu a frase “Era melhor ir ter ido ver o filme do Pelé”. Frase emblemática do episódio em que todos da vila vão ao cinema. O que talvez você, caro amigo leitor, não saiba ainda é que, no áudio original, em espanhol, o filme mencionado era justamente El Chanfle, que havia acabado de ser lançado para o cinema local. O filme traz Chespirito no personagem central, Chanfle, o roupeiro auxiliar da comissão técnica do América do México, que tem Ramon Valdez (Seu Madruga) como o treinador Reyes, Carlos Villagrán (o Quico) como o craque do time Valentino, Edgar Vivar (Seu Barriga) no papel do médico Dr Najera e Rubén Aguirre (Professor Jirafeles) como o presidente Sr Matute. Ainda temos Florinda Meza (Dona Florinda) no papel de Tere, esposa do Chanfle, Maria Antonieta de las Nieves (Chiquinha) como a secretária do presidente e Angelines Fernandez (Bruxa do 71) e Raul Chato Padilla (Jaiminho) nos papeis de um casal que vive poucas e boas com Chanfle.

Chanfle é uma pessoa simples, pacata e que sonha em ter um filho com sua esposa, com quem é casado há 10 anos. No América, quer sempre vencer, mas de forma honesta, o que irrita um pouco o técnico Reyes e o presidente Matute. Valentino é o típico jogador que pensa mais em si mesmo que no clube. Está no meio de uma renovação de contrato e pressiona o presidente a dar-lhe um aumento jamais ocorrido no futebol mexicano. Em campo, abusa da malandragem para ludibriar a arbitragem e conseguir faltas, penalidades e expulsões dos adversários. Chanfle, não consegue se segurar sempre que vê as ações de Valentino, invade o gramado e fala para o juiz que o jogador de seu próprio time simulou uma falta.

O filme contrapõe um sentimento que virou comum nas torcidas. Em diversas oportunidades, você já deve ter ouvido de alguém que “gostaria de ganhar o clássico com gol de mão, impedido, aos 48 do segundo tempo”, ou algo parecido. Dessa maneira, damos mais valor ao resultado em si do que a trajetória, a forma como se constroem as vitórias. Ouvimos que os fins justificam os meios, e não importa quem seja prejudicado no caminho, o importante é vencer a qualquer custo. Filosofia que não está presente apenas nos campos de futebol, mas infelizmente em vários setores de nossa vida.

Chanfle vai contra isso. Idealista, como é chamado pelo Doutor Najera, não aceita vencer de qualquer jeito. Isso não significa que não goste da vitória, mas sim que gosta dela de forma limpa. Quer vencer sendo melhor que o adversário, não sendo desonesto e levando vantagem em erro da arbitragem causado pela simulação de seu próprio jogador.  Mas, essa atitude, não é muito bem vista por Reyes e Matute. Reyes chega a pedir a demissão de Chanfle para Matute por conta das atitudes de invadir o campo de jogo para denunciar as simulações de Valentino. Reyes nada mais faz do que o que estamos acostumados a ver todo final de rodada do Brasileiro. Quem vence com erro de arbitragem, não se lamenta. Se os dirigentes de seu time do coração estão compactuados com atitudes nebulosas com investidores, confederações, governos ou etc, mas seu time está levando algum tipo de vantagem, não tem problema. Afinal, o que importa é a taça, as vitórias. A honra das conquistas é irrelevante.

Mário Sérgio Cortella, professor de filosofia da PUC e um dos comentaristas da rádio CBN-SP, contou em diversas oportunidades uma história de um maratonista espanhol que estava em segundo lugar em uma corrida. Seu adversário estava bem a frente, mas se confundiu no fim da prova sobre em que ponto seria a linha de chegada, tendo parado pouco antes para comemorar. O espanhol, ao ver a cena, aponta e mostra para seu adversário que faltava alguns metros para ele encerrar e “deixou” que ele ganhasse a prova. Coloquei o deixou entre aspas por que, na entrevista após o encerramento da prova, ele foi questionado sobre a atitude. Por que fez aquilo, perguntavam os repórteres? “Fiz o que?” respondia. “Por que deixou ele ganhar?” questionavam de volta. “Não deixei, ele ia ganhar”, respondia de volta. NA tréplica a pergunta foi “Mas você podia ter passado e vencido a prova?”. A resposta foi certeira “Mas que honra eu teria se fizesse isso?”.

História que mostra o que El Chanfle retrata. Não há glória sem honra. Vencer com honra é vencer porque você foi melhor que o adversário, não porque alguém se equivocou ou foi induzido ao erro, como nas simulações de Valentino. Vitórias “roubadas”, para usar um termo comum no futebol, não deveriam ser comemoradas. A vitória do corredor espanhol seria legal, do ponto de vista das regras, mas, para ele, seria imoral. Assim como as vitórias do América do México, conquistadas com gols de pênalti simulados por Valentino.

A moral e a ética são instâncias que estão acima de qualquer regra ou lei. Quando uma sociedade é regida por condutas morais e éticas das mais elevadas, como honestidade e honra, não há necessidade de regulamentações de multas, monitorias, câmeras de vigilância, assinaturas autenticadas, grades de proteção e etc. A conduta de cada um encerra com essa necessidade. Por isso que o Sr Matute e o treinador Reyes, chegam a conclusão que Chanfle deve cuidar das categorias de base do clube. Pois é na base, nas crianças, que o futuro vai ser construído e, se os valores bravamente defendidos por Chanfle forem entendidos pelos jovens, certamente teremos uma sociedade mais respeitosa, mais amorosa e mais ética.

Chespirito, assim como nos personagens mais famosos Chaves e Chapolin, que nos entregavam essas lições de vida a cada episódio, colocou também em El Chanfle um grande ensinamento para nossas vidas. Nesse dia em que completamos um ano de sua passagem para o céu, convido você a assistir no Youtube (O Fórum Chaves e Fã Clube Chespeirito Brasil fizeram o imenso favor de legendar nós) o filme e refletir sobre os valores que nos conduzem na vida. Ficamos felizes quando nosso time ganha com erro crasso da arbitragem? Vale a pena refletirmos...

Ficha Técnica
Título Original: El Chanfle
Tempo de duração: 106 min
Ano de lançamento (MEX): 1979
Direção: Enrique Segoviano
Roteiro: Roberto Gomez Bolaños


OBS: A seção Cine HTE não tem a pretensão de fazer uma crítica em si dos filmes, mas relatar e refletir sobre os ensinamentos que são abordados na história, seja baseado em fatos reais ou mera ficção.

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